O título parece-me sumamente sugestivo e provocador.O Timor-Leste ainda está sendo categorizado como um dos países pobres, de acordo com o relatório das Nações Unidas (2014), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Timor-Leste 0, 60%. Produto Interno Bruto (PIB), 4,2% (Banco Mundial, 2018). Qual é o caminho que os líderes estão pensando sobre o IDH e o PIB de Timor-Leste?O povo timorenseestá sonhando com uma vida que merece proteção. Eles estão sofrendo as necessidades básicas.
Da queda do socialismo real e de muitas ideologias, do retrocesso dos processos revolucionários e dos movimentos populares e tudo o que pensávamos e sentíamos até há pouco tempo nos parece agora tão distante e até repleto de “ingenuidade e simplismo”. Depois de tudo isto, nos perguntamos: o que fica da opção pelo pobre, de tudo aquilo que com tanta paixão e fervor temos vivido e proclamado, de todas estas esperanças pelas quais tanto irmãos têm dado a vida? Fica em pé alguma utopia? Fica opção pelo “povo como sujeito? Fica sequer a própria opção pelo pobre? Ou somente fica a decepção, o despertar de um sonho, ou o sabor amargo de uma fuga resignada para o “salve-se quem o puder” neste novo império do individualismo e da exclusão neoliberal? Estas perguntas nos desafiam e abrem o sonho revolucionário, inclusive o sonho de um “Estado dos pobres” e uma “Igreja dos pobres”.
Hoje, tudo é objeto de Mercado, tudo se compra e se vende. Só assim estaremos em condições justas e equitativas: ganhará aquele que mais trabalhe, aquele que mais produza, aquele que melhor venda. Quém não saiba competir ficara marginalizado, excluir-se-á a si mesmo. Não há alternativa ideológica, não há outra saída econômica. As ciências sociais estão em crise, desorientadas, sem vislumbrar outra saída senão a do onipresente neoliberalismo. O que se viveu nos períodos passados tem sido um “sonho ideológico”, um romantismo revolucionário carente de base que se tem evidenciado nestas alturas como simplesmente inviável. Ante tudo isto, que sentido tem a opção pelos pobres? Significa algo mais do que uma bela teoria ideológica e teológica impossível de implementar na prática? Pode o povo ser sujeito de sua história? Poderá um dia pôr-se de pé? Ou o futuro da história passa preferencialmente pelas classes médias e poderosas? Sera o “povo como sujeito” um mito sem fundamento que devamos abandonar?
No contexto de Timor-Leste de hoje, precisamos falarda opção pelo pobre, porque queremos abrir os olhos a esta realidade. Preferíamos pensar que ainda é realidade plena esta fecunda convergência prática que vivemos.Umaquestão simples de modelos econômicos. O capitalismo se baseia no egoísmo individual e na civilização da violência. Por isso, os poderosos se sentem à vontade neste sistema, e pedem total “liberdade” de movimentos. Que não haja outra lei a não ser a da selva: Mercado livre de trabalho, livre empresa, livre competição, liberalismo e neoliberalismo. É lógico que em meio à selva de egoísmos, o peixe grande come o pequeno. Os ricos se fazem cada vez mais ricos às custas de que os pobres sejam cada vez mais pobres. Os países que aplicaram estes sistema submerses na pobreza são fruto deste sistema social.
Uma opção pelo pobre é a tentativa de trasnformar este sistema numa sociedade mais justa e solidária. Isto não se pode fazer senão limitando os abusos da “liberdade”. A liberdade de cada um acaba onde começa a dos demais. O capitalismo, em nome da liberdade, limita toda a liberdade; a liberdade de roubar, de explorar, de desapossar, açambarcar e marginalizar. Aí os poderosos se sentam à vontade. Alegam que não há “liberdade”. VIGIL, (1993, p.195), afirma quehá de se “liberalizar, flexibilizar, privatizar, etc., a economia.É evidente que um projeto que considere uma opção pelo pobre só pode ir adiante à força de mística (seja ética política ou religiosa) porque já não conta o atrativo do egoísmo individual. É uma economia capitalista e mais adepta da ideia de que e mais “motivador” cuidar da propriedade individual que da coletiva, trabalhar para um só que para a comunidade, olhar por si mesmo que pelo bem comum. Ninguém nasce com coração “egoista”. A todos não é mais fácil o egoísmo. Este é, em parte o pecado original. E só comum duro esforço de superação podemos nos aproximar da condição de homens livres e libertos.
Iluminação histórica
Houve muitas “noites escuras” e muitos fracassos históricos dos pobres ao longo dos séculos. Seu projeito libertador foi bloqueado muitas vezes, sufocado e esmagado. Precisa o reconhecimento da dignidade dos timorenses porque não havia capacidade de ver os direitos do outro e os direitos dos povos. Agora o povo esperando a hora de realizar-se e concretizar-se, o momento em que a humanidade tiver alcançado o nível de maturidade e consciência que possibilita até exija sua realização concreta. O pobre não seria tão expliorado se entre eles não houvesse exploradores.
Iluminação Bíblica
A história de Israel pode se periodizar em função das distintas potências às quais esteve sumetida: Egito, Assíria, Babilónia, Pérsia, Roma, Grécia,… a chegada de um novo império que se impõe por um ou outro tipo de violência e dissipa as esperanças dos pobres… é um tema recorrente na Bíblia; é como a cadência que marca o ritmo inconfundivel da história bíblica. A própria identidade do povo se quebrou como um prato quando cai no chão. O povo ficou perdido: sem poder, sem privilégio, sem rumo, disperso num imenso império. O cativeiro foi a obscuridade (Lm, 2.6), a experiência do nada, o caos: trevas, águas, deserto (Gn, 1.2).Deus opta por ele (Israel) frente aos impérios poderosos, para melhor ressaltar sua opção pelo povo, opção que não era pelos méritos do povo, que não correspondia às capacidades que Israel mostrava. No Novo Textamento, Deus saiu em sua defesa, e o ressucitou, e confirmou toda a sua pregação do Reino e a Boa Nova para os pobres. O evangelho é repletoda profunda opção que o Cristo fez pelos pobres. Consideremos apenas alguns: o cântico do magnificat, também Mateus capítulo 5 e o capítulo 25.
Análise teológica
Nosso dever nesta hora passa pelo discernimento. E discernir é distinguir, não confundir os planos nem as realidades. As estratégias, as táticas, as fórmulas ideológicas que podem concretizar historicamente aqueles grandes princípios em cada hora, as possibilidades reais que cada conjuntura oferece ou proíbe. É necessário retomar a dinámica dos profetas que, no tempo em que denunciam,também anunciam.
A partir da fé e com discernimento teológico, a essencialidade teologal da opção pelo pobre independentemente da crise dos paradigmas teóricos e das análises sócio-políticas se faz contra toda evidência sociológico-econômico-política. A encarnação: partilhar a “noite escura” dos pobres, recolhendo a herança de resistência do povo em tantas seculares noites históricas. Provar agora, nos tempos difíceis, a qualidade de nossa opção pelo reino e pelos pobres. A busca de alternativas econômicas, inclusive dentro do sistema. Não aceitar novos dogmas em economia nem dobrar-se diante de “certezas científicas” de novo cunho. Reconhecer a perplexidade teórica como uma forma histórica de esperança. A espiritualidade: a utopia dos pobres só poderá ser implementada à base de mística e maturação da humanidade, não com simples reformas econômicas estruturais. Sem a mística do Povo Novo, sempre será mais forte o egoísmo individual.
Texto produzido por Pe.José Maia.
Mestre em Bioética
(Email:pejemaia@gmail.com)